Meu pai, mineirão de raiz, 94 anos, quebrou a cabeça do fêmur. Até aí novidade nenhuma. Fratura, gripe e piriri são as maiores causas de passagem pro segundo andar dos nossos velhinhos queridos. Até mesmo porque com o prodigioso avanço da medicina não se morre mais de velhice. Tem aparelho hoje, tão detalhista, mas tão detalhista que nem os médicos tão sabendo o que é que eles vêem. Os remédios de ultima geração curam qualquer coisa. Quer comer um torresminho? Pode! É só tomar um anticolesterol todo dia. O trem parece um detergente, fora gordura! Ainda tem os remédios naturebas que também estão a solta. Gosta de encher a pança demais? Tome uma colherzinha de chá de semente de linhaça antes das refeições que é tiro e queda! Haja fibra pra se ir ao banheiro toda hora!
Mas voltando à vaca fria, entre a queda, a cirurgia para colocação da protese, a alta e a volta do hospital tudo beleza. A hotelaria dos hospitais, nos dias de hoje, mais parece um Resort. Até manicure tem!Você pode até pedir pizza delivery.
É verdade mesmo! O que tem de maquina de refrigerante, batata frita e sanduiche ensacado nos corredores hospitalares é brincadeira! Já tem até microondas acoplado na geringonça pra você esquentar o veneno! Bom, chegando em casa é que a jurupoca pia. Os caras de branco fazem a entrega a domicilio e deixam o nosso amado progenitor deitadinho e confortável em sua própria caminha. Lindo. E agora?
Vocês não imaginam a logística necessária pra cuidar do velho. O homem tem que comer e beber. Deitado não pode senão corre o risco de aspirar o alimento pro pulmão, aí bau bau! Um levanta o dorso, coloca almofadas e sustenta o véio. Outro dá comidinha de aviãozinho. Legal, né? Mas o que entrou tem que sair!
E agora? –Tou com vontade.....É uma correria. Pega o véio, três de cada vez, bota na cadeira de rodas, corre para o banheiro, senta-o no vaso e espera a execução da obra. Obrou? Beleza, agora toda a estratégia da volta.
Quando dá tempo e a operação é executada com sucesso, todos exultam, e com razão. Quando não dá tempo e a obra é executada durante o percurso, valha-me Deus.
O barro cria um rastro que vai da cama ao vaso. Fenomenal! E como a operação não pode parar, os ajudantes se sentem andando nas calçadas de Copacabana.
Como é que você desvia da merda carregando um pacote frágil que lhe impede a visão? Como dizemos por aqui é pá e bosta! Passadas as agruras e escorregadelas, acaba tudo correndo na mais perfeita desordem. Agora vamos à operação final do processo. Genial! Você tem que pegar o chuveirinho, levantar os apetrechos que atestam a masculinidade dos machos da espécie, dar uma lavagem geral, no detalhe, secar, passar pomadinha antiassaduras e o escambau. Todo cuidado é pouco!
Já recomendei à cozinheira, comidinha leve, verduras, nada de frutas cítricas.
Já pensou se o veio pega uma diarréia?
Chamamos o Shower body delivery, parece coisa das Organizações Tabajara! Momento Mastercard – Não tem preço.
Veio uma moça: _ Nâo deixo, diz o veio! Mandaram um rapaz. Rapaz! Era um membro de uma minoria que quer se fazer maioria, muito em voga hoje em dia. Meu pai, notando o gliter e a purpurina já gritou: _em mim não põe a mão!
Mandaram outra, só assim o véio lavou os documentos.
Por essas e outras já avisei aqui em casa. O Departamento Bundal definitivamente não é comigo. Alguém assume! Dos outros Departamentos cuido eu!
Mas tem muitas outras peripécias que merecem registro.
Depois eu conto mais, pois o alarme tocou....corre aqui!