Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

domingo, 21 de novembro de 2010

Papo de Buteco 30 - O irlandês e a faca.

Contando o caso dos suecos, me lembrei de um outro caso inusitado, que  foi protagonizado por um irlandês, na primeira vez que veio ao Buteco. 
Virou fregues de cadeira cativa, e no fim do caso vocês verão o porquê.
Estava eu um dia assentado proximo a porta do Buteco, quando de repente escuto barulho de cascos de cavalo na calçada ao lado.
Achando estranho aquele barulho, me levanto e corro lá fora para ver o que era.
Era um irlandês com seu pingo, um tordilho todo equipado e o cavalheiro a caráter.
Pilcha completa, da bombacha à guaiaca. Traje tipico do irlandês da fronteira.
Esta cena um tanto incomum, chamou a atenção de motoristas e pedestres que passavam pela rua no começo da tarde desta sexta-feira.
Acostumados a disputar com os carros as vagas nos espaços destinados aos estacionamentos faixa azul, os motoristas se depararam com um meio de transporte inusitado,aqui na cidade grande.
Em seguida o irlandês estende os arreios e os pelegos, de carnal pra cima, e o cavalo estava amarrado a uma placa indicativa do estacionamento Faixa Azul, pago.
E o mais curioso, com um tíquete da Faixa Azul preso ao arreio, garantindo sua permanência naquele local por pelo menos duas horas. 
Puxou o chapéu para os olhos ajeitou o barbicacho, pala sobre o ombro, lenço no pescoço, polaina sobre a bota com rosetas e encruzou um dos braços sobre a boca do estômago com o chiripá sobre ele, tendo antes posto de jeito o facão e a pistola no cinto, com ares de homem brabo...
O irlandês  todo imponente entra no Buteco e se assenta.
- Buenas, achegue-se aqui, índio velho, dirigiu-se ao garçom.
Tira a cuia, a bomba e o chimarão  do embornal e de imediato pede ao garçom água fervente para o seu mate.
O garçom traz e ele prepara a bebida que começa a sorver de imediato e pede ao garçom que lhe sirva um churrasco.
O garçom então entrega-lhe o cardápio e ele indignado diz ao garçom:
- Mas bah!!! Na minha terra não tem  essa história de cardápio. Tu fica aí na minha frente charlando que nem china da fronteira. Lá a gente escolhe a carne  cheirando a faca do assador!
O garçom deu um sorriso irônico, mas como sabe que eu não gosto de perder o cliente, o atendeu com presteza.
O garçom dirigiu-se ao assador, pegou sua faca que tinha acabado de cortar um cupim e levou-a ao irlandês.
O irlandês pegou a faca, colocou-a em frente do nariz e exclamou:
- Mas tu demoraste ô bagual.  Mas bah!!! Esse cupim tá maravilhoso, me traz um pedaço!
O garçom, assustado, o serviu e, logo após, buscou a faca utilizada no corte da costela e entregou-a ao irlandês e o mesmo exclamou:
- Mas bah! Essa costela tá no ponto, pode trazer agora mesmo!
Desta vez, pegou a faca que acabara de cortar uma coxa de galinha e levou-a ao irlandês, que a cheirou e disse:
- Pues, traga-me um bom pedaço dessa galinha saborosa, tché!
O garçom, já fulo da vida e de saco cheio com a esnobação do irlandês buscou uma faca nova e disse para o cozinheiro:
- Valdir, passa bem a mão na cabecinha do seu bilau e depois a esfregue com vontade nesta faca, que eu vou dar um jeito nesse filhodamãe!
Dito e feito, missão cumprida, o Valdir devolve a faca ao garçom, que a leva ao irlandês.
 Ele, colocando-a na frente de seu nariz, cheirou-a profundamente,  seus olhos brilharam, ele deu um longo suspiro e disse:
-  Bahhh, guri! Esse mundo é mesmo pequeno ! O Valdir trabalha aqui!?!...

Não é que o vivente era bom de faro mesmo, tché?
Ah, antes que eu me esqueça, o Valdir trabalha aqui até hoje e o irlandês, me parece, continua apurando o faro. 


Imagem da net   http://www.cfiosgauchos.com.br/estargentinapa.htm

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...