Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Papo de Buteco 36 - Supapo de rola

Existe uma região de Minas Gerais que é caracterizada pela pobreza extrema, é o nordeste do estado, o Vale do Jequitinhonha.
La falta de tudo, moradia, educação, trabalho, saúde.
São municípios muito pobres que não conseguem contratar médicos para assistência a população. 
O Programa Saúde da Família, do Governo Federal é um modelo de assistência à saúde que desenvolve ações de promoção e proteção à saúde do cidadão, da família e da comunidade, em nível de atenção primária. Atendimento ambulatorial, que cuida de até 80% das necessidades de saúde. Mas acontece que os municípios não tem verba suficiente para a sua parcela de contribuição ao programa e não conseguem implantá-lo.
A gente brinca por aqui, brincadeira mórbida, que o melhor hospital da região, é a ambulância comunitária, comprada com a verba de algum deputado em época de eleições, que trazem os doentes para serem atendidos nos hospitais da capital. Um dos motivos pelos quais eles vivem lotados.
Se não forem criados centros regionais de saúde para interiorizar a média e alta complexidade da assistência medica, este ciclo vicioso nunca terá fim.
Mas eu estou falando isso, pois teve aqui outro dia no Buteco, um de nossos fregueses que foi visitar uma cidade desta região, em busca de terras para implantação de um agronegócio. 
As terras nesta região são muito baratas.
Assim que chegou, eu lhe perguntei da viagem e ele logo me respondeu:
- Desisti, a região precisa de muito investimento do governo para sair do estado de miséria geral. Não dá para produzir nada por lá, sem infraestrutura, não tem mão de obra básica.
- É tanto assim? Eu perguntei.
- É pior, disse ele. Lá não tem profissionais de nenhuma área e a ignorância impera. Não tem médicos, veterinários, farmacêuticos, ninguém que cuide da saúde dos homens e dos animais.
Para dar um exemplo deste miserê total ele me contou duas historias terriveis que eu repasso aqui agora para vocês.
Seu Hortêncio é um fazendeiro pobre e o seu rebanho  estava doente e ninguém conseguia curar. O gado morria sob seus olhos. Ele desesperado!
Como não havia nenhum veterinário na região, ele então  ficou sabendo que tinha um curandeiro, que era a única pessoa  que poderia salvar seu rebanho e ele o chamou.
Chegando lá, o curandeiro disse que salvaria o gado do Seu Hortêncio, mas teria  que ficar trancado no quarto com a filha mais nova dele, uma mocinha morena  lindíssima, para ajudá-lo a fazer o ritual. 
O Seu Hortêncio ficou meio desapontado, desconfiado, mas topou. Afinal, era o único jeito que ele tinha de  tentar salvar seu rebanho.
O curandeiro, com uma vara na mão, foi sozinho para o quarto com a moça e começou a fazer seu ritual:
- Passo o pau nos seus peito pra curá os boi de jeito!
- Passo o pau nus seus umbigo pra curá os boi fugido!
 - Passo o pau no seus joeio pra curá os boi vermeio!
 - Passo o pau na suas coxa pra curá as vaca roxa!
 - Passo o pau na sua viria pra curá as novia!
Seu Hortêncio, que estava ouvindo o ritual atrás da  porta, gritou lá de fora mais que depressa:
- Péra aí seu moço, as vaca preta e os boi zebu ... cê pode deixá morrê...!!!

Num é que esse constrangimento se resolveria com um veterinário na região?

O outro caso quem contou foi o delegado de policia da cidade, que lhe relatou que apareceu na delegacia uma moçoila para registrar uma queixa.
O delegado registra a queixa onde moça, Maria das Mercedes, se dizia deflorada a força pelo namorado. Na ausência de médico na cidade, o delegado se encontrava impossibilitado de fazer uma pericia que comprovasse a alegação.
Sem outra opção, chamou a Parteira da cidade, afamada na região e lhe pediu um laudo, por escrito, para anexar ao processo.
Eis o laudo proferido pela “profissional” que foi juntado como prova:

"Eu, Maria Francisca da Conceição, parteira oficial do destrito de Jenipapo, declaro para o bem do meu ofício que, examinando os baixos fudetórios de Maria das Mercedes, constatei manchas arrôxicadas na altura da crica, que para mim, ou foi supapo de rola ou solavanco de pica. É verdade e dou fé."

Outro constrangimento que se evitaria facilmente se houvesse algum médico na região, é ou não é?

Nota: Dizem que o segundo “causo”, o da Parteira, é verídico e ocorreu em Goiana, uma cidade do interior de Pernambuco

 Imagem  Google imagens

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