Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Papos de Buteco 58 - Colóquio Canino

Eu sempre gostei muito de bichos. Com pena, pelo ou escamas.
Desde menino, como sempre morei em casa, sempre os tive em profusão.
Já tive pombos, coelhos, canários, tartarugas, peixes em aquário e tanques, cachorros de varias espécies e agora tenho gatos.  Acho que eles dão vida à casa.
Aqui no Buteco, como é um estabelecimento comercial, não é permitida a entrada de animais domésticos. Por mim ate que eles entrariam, mas a maioria dos fregueses não gosta de se alimentar com animais por perto. Já ocorreram brigas feias por aqui antes que tomasse esta medida. Alguns reclamam que com a presença dos animais o ar fica cheio de pelos que caem na comida. Outros não gostam do barulho. Os donos dos animais reclamam dizendo que eles são da família e se eles não podem ficar eles também não ficam. E um caso serio!.
Como a maioria não gosta, preferi deixar aberto o acesso somente a cães guia.
Destes ninguém reclama, pois seria politicamente incorreto.
Tenho no passeio, logo ao lado da porta de entrada, em frente a uma vitrine imensa por onde se pode ver toda a rua, uma barra onde os donos podem prender seus animais. Forneço ração e agua e à porta fica um funcionário pra ficar de olho neles. Vai que alguém os roube ou maltrate.
Os animais sempre me interessaram e eu frequentemente tentava manter algum dialogo com eles. A gente nota que eles conseguem se comunicar entre si, eles nos entendem, mas a gente não consegue entende-los direito.
Para resolver essa minha vontade, andei tomando umas aulas com o doutor Dolittle, aquele do cinema, sabem?
Fiquei craque! Vocês não imaginam o que eles falam entre si ou até mesmo o que dizem de nós humanos em geral ou de seus donos.
Um domingo desses, casa cheia para o almoço, eu resolvo sair à porta para espairecer. Havia três cachorros do lado de fora aguardando seus donos.
Um dobermann, um pastor alemão e um São Bernardo entabulavam um papo animado. Eu curioso, estiquei os ouvidos para a conversa.
Conversa vai, conversa vem, o pastor pergunta para o dobermann o motivo de ele estar meio sorumbático.
O dobermann respondeu:
- Mês passado, a cunhada do meu dono levou sua cachorrinha lá em casa. Não deu outra: tracei a bichinha. Resultado: o desgraçado do meu dono mandou me castrar... E você? Percebo que também perdeu aquela alegria costumeira. Aconteceu alguma coisa?
- Comigo aconteceu um caso semelhante. Foi uma amiga da minha dona lá em casa e não teve jeito. Agarrei sua perna e me enconchei todo nela... Ela tinha umas pernas que era uma coisa de louco... Mas como nem pé de mesa eu tava perdoando, a minha dona também mandou me castrar...
Os dois, percebendo que o São Bernardo escutava a conversa atentamente com um sorrisinho maroto, perguntaram, quase que ao mesmo tempo:
-E você, o que lhe aconteceu para estar com este sorriso na cara?
O São Bernardo respondeu:
-Há uns quinze dias, meu dono chegou de uma manifestação de rua, bandana na cabeça, camiseta com as cores do arco-íris encharcada de suor, tomou uma ducha bem quentinha, banho com sais aromáticos, passou loção Nívea Baby, depois talquinho alí, creminho acolá, e caiu de bruços na cama, quase desfalecido, coitado!... Foi aí que não aguentei: pulei em cima dele e mandei ver!...
E novamente os dois perguntaram, quase que ao mesmo tempo:
- Você vai ser castrado na certa, né?
- Que nada... Ele só me levou ao salão para aparar as unhas....

Preciso falar que nessa hora eu desejei ser analfebeto em cachorrês?

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